terça-feira, 30 de junho de 2009

Tiche Vianna e as máscaras

Como no caso de Ana Maria Amaral, não poderiamos de entrevistar Tiche Vianna, referência na construção de máscaras e treinamento de atores no Brasil. Simpática e serena, a integrante do grupo Barracão do Teatro (SP) falou de seua trajetória e das questões que envolvem seu dia-a-dia no teatro.

fotos Cris Prim


Filha do conhecido autor e ator do Teatro de Arena Oduvaldo Vianna Filho (1936 - 1974), Tiche Vianna teve um incentivo extra para ir atrás de sua paixão: as máscaras. Tudo começou na escola, na qual fez parte do grupo que reivindicou, e conquistou, aulas de teatro.
Na fase adulta, já com olhar voltado para a direção, em 1983, resolveu estudar o ator, na Escola de Artes Dramáticas. Nessa época, apaixonou-se pelo teatro dell’arte - forma de teatro popular improvisado, que começou no século 15 na Itália. “As questões urbanas me chamavam atenção, mas ninguém fazia teatro dell’arte no Brasil, então fui estudar na Itália”, conta.
Em terras européias, trabalhou com um grupo de iranianos na confecção de máscaras e passou experimentá-las nas ruas. “Aprendi que é preciso dar a cara para bater”, diz ela, que saiu do Brasil com uma mochila nas costas e muita curiosidade e voltou como referência na construção de máscaras.
De volta à terra natal, queria colocar em prática tudo que aprendeu de forma espetacular e, para tanto, começou a preparar atores. “Pensar em animar é como colocar a alma. Estamos falando de energia que se materializa”, observa.
Nessa perspectiva, ela alerta: “Na realidade, todos os personagens são máscaras”. Ou seja: para ela, a construção de um personagem através do corpo se dá como se estivessem colocando uma máscara. “Se não for máscara vira uma caixa de som informando o que deveria estar fazendo”, considera.
Sobre o uso da máscara na contemporaneidade, Tiche lembra que elas são a expressão de seu tempo. Em sua origem, ela referenciava a um objeto de aparição divina. No período dell’arte, ela estava na rua e marcada a ferro e fogo na tradição, o que rumou a profissionalização. “É preciso dar uma forma ao desconhecido e, hoje, ela é a representação do incomum”.
(Letícia Kapper - SCJP 2526)




Rapidinhas
Tiche também falou sobre a preparação de atores bonequeiros e sobre como é fazer teatro no centro nervoso do país – São Paulo. Confira

É necessário o mesmo trabalho de preparação do corpo para o ator bonequeiro e ator de máscaras?
Tiche: Sim. A diferença é que com a máscara o ator tem que se fazer aparecer. Já o boneco é um apêndice do corpo do ator bonequeiro, que tem que trabalhar uma energia interna com precisão. O trabalho é o mesmo e os resultados específicos.

Sobre fazer teatro em São Paulo. Há muita diferença na Capital e no interior do Estado?
Tiche: Sim. Teatro na Capital é mais comercial, preocupado em montar teatro. Existe desde os anos 90 uma lei de fomento que é um paradigma porque garante verba para 30 grupos por ano, sendo que cada um recebe R$600 mil. Esse ano, no primeiro semestre, já aprovaram 17. Assim, os grupos interferem nas comunidades e o mecanismo não se torna mais um produto. Voltando a questão da diferença, a Capital tem uma oferta imensa de gêneros e no interior não se consegue fazer nenhuma temporada (mínimo dois meses).

Qual o papel da cooperativa de teatro de São Paulo nesse processo?
Tiche: Ela tem 700 grupos associados e mais de 3.000 artistas e o que o porquê de existirmos. Somos os criadores, mas ela promove o encontro para discutir leis, dá segurança, traz representatividade. A cooperativa tem quase 20 anos de atividade efetiva.
(Letícia Kapper - SCJP 2526)

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